Conta-se que um andarilho era visto todos os dias no parque da cidade.
Ele não se importava em fazer isso e nem maldizia as pessoas que sujavam o parque.
Ninguém na cidade parecia notar que as azaléias estavam sempre podadas e, se por ventura, alguém viesse a notar, certamente daria o crédito ao poder público.
O vagabundo atinava tal possibilidade, porem, não se importava. Para ele o mais importante era manter aquele local sempre em ordem. Certo dia, uma viatura policial encostou bem ao lado dele. Um policial desceu e o abordou desferindo-lhe, sem aviso prévio, uma tremenda bofetada. A justificativa era de que o ( meliante? ) estava arrancando flores do canteiro.
Na verdade o vagabundo do parque estava apenas retirando ervas daninhas e algumas tampinhas de garrafas que impediam o desenvolvimento de algumas tulipas.
Os policiais foram embora, certamente satisfeitos com o desempenho que haviam demonstrado perante àquele inofensivo rapaz. O andarilho porem, tornou ao local onde estava. Sua preocupação era imensa com um galhozinho seco que mau se aprofundava na terra. Parecia nem se importar com o sangue que descia de seu nariz devido à agressão que sofrera; tudo o que ele queria era salvar aquele caulezinho que lutava para arrancar a seiva da terra. Algum tempo depois a luta havia terminado. O andarilho chora a morte daquela que poderia vir a ser uma bela roseira. Lágrimas e sangue regam aquele pequeno graveto que sequer chegou a exibir seus brotos. Alguns meses depois o andarilho já não era mais visto no parque. Pouquíssimas pessoas se ressentiram disso, porem, a grande maioria continuou indiferente. O parque estava bastante mudado. As flores abundavam os canteiros e as pessoas passeavam entre eles e, desta vez, não havia um mendigo ou qualquer outro desclassificado que lhes destoasse da bela visão que tinham do parque.
Certo dia eis que chegaram ao parque o prefeito e sua comitiva de políticos para a inauguração de um chafariz. O cerimonial foi perfeito incluindo no evento uma famosa dupla sertaneja. A primeira dama chamou a atenção pela riqueza de suas vestes.
Tudo isso, no entanto, não foi páreo para a estreante do dia. A atração maior estava do lado oposto ao evento, num pequeno canteiro a beira da calçada.
Um único galho, uma única folha e uma vestimenta celestial.
A rosa se mostrava por inteira num vermelho aveludado sendo a única ali capaz de ofuscar a vaidade humana.
[ Rubens Souza ] Poeta e escritor. Autor desta poesia
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